terça-feira, 15 de abril de 2014

Missão à escala internacional



Talvez o título seja demasiado ambicioso e muito abrangente. Mesmo correndo o risco de parecer muito expressivo e forte, até aos dias de hoje, não houve na diocese, nestes últimos tempos uma Missão tão internacional, mesmo sendo vivida em duas pequenas paróquias do concelho de Odemira: Colos e Relíquias.
A equipa missionária era composta por portugueses (três), brasileiros (seis) e um nigeriano. A maior parte dos membros da equipa participou, pela primeira vez, numa Missão Popular. Além destes pormenores, ricos e significativos, a Missão dirigiu-se aos habitantes de Relíquias e de Colos, mas também a um grupo de gente ‘estrangeira’, não apenas de nacionalidade ou língua, mas diferente no modo de viver e de encarar a sociedade. Falamos da Comunidade Tamera. Gente nova e de várias idades, abriu-se à Missão, acolheu a Senhora da Visitação e a equipa missionária. Partilhou o seu estilo de viver e a sua refeição. Não faltou o tempo de oração. Rezou-se, em português e em inglês, conforme a língua mãe de cada um ou aquela que melhor ajudou a criar comunhão e laços de amizade. Foi bonito.
Afinal, o título não está tão desajustado ao que se experimento e viveu em Colos e em Relíquias, nas primeiras semanas de Abril. Dois dos missionários, oriundos de continentes diferentes, narram as suas vivências e transmitem os seus testemunhos de vida.

Testemunho 1

- Sair em Missão -

Com muita alegria começamos e vivemos duas semanas de Missão Popular nas Paróquias de Colos, Relíquias e suas comunidades (montes dos arredores). Fiz equipa com os padres Agostinho e Reuber, pároco. As Irmãs do Bom Pastor, Diác. João, e Frei Adenilson, também fizeram parte desta equipa de evangelização.
Houve encontros de comunidades familiares. Algumas pessoas vizinhas juntaram-se para partilhar a fé e a experiência cristã. Trataram vários temas especializados. Visitamos e participamos nestas comunidades e encontros. É muito bom e interessante ver as pessoas a terem tempo para Deus, para lerem a Bíblia juntos. É importante também ver os cristãos a terem interesse em conhecer Deus e os mistérios da nossa salvação.

Ao longo da Missão tivemos várias procissões com Imagem Peregrina da Nossa Senhora das Missões. Em todo o lado, houve boa participação por parte do povo.

Visita e encontro com as famílias
Na Missão houve uma acção muito forte: Tivemos a visita e a bênção às famílias. Foi um momento que gostei imenso de fazer, isto é, de ir ter com as pessoas em suas casas. Foi uma experiência e uma realidade muito interessante, mas muito diferente do que já fiz no norte (compasso ou visita pascal). Alguns aceitam e acolhem-nos com entusiasmo; outros, com receio, e outros, ainda, com uma indiferença enorme.
Aqueles que têm receio em nos acolher, sobretudo nos montes e lugares distantes, tinham um motivo: a polícia, por razões de segurança, tinha-os avisado para não abrirem a porta a estranhos e a pessoas não conhecidas. Aceitamos e compreendemos perfeitamente a situação, pois já houve pessoas que, num passado recente, se disfarçam de equipa médica, de funcionários de Banco, de polícia, de religiosos e de funcionários da segurança social. Com este disfarce o motivo, enganaram e roubaram os idosos da aldeia ou os mais isolados. Os outros, que acolhiam com indiferença, notava-se uma enorme falta da fé, e outros ainda, diziam que não ligavam nada a Deus nem à religião! É muito interessante saber ou reconhecer que cada sítio ou local tem a sua realidade própria no que toca a assuntos religiosos. Deste modo, aparecem os aspectos positivos e os negativos.
Como equipa missionária, tivemos uma oportunidade única de visitar a Tamera. É uma comunidade universal, com cerca de 200 pessoas, no mais interior do Colos e de Relíquias. Esta comunidade é oriunda da Alemanha, tem cerca de 20 anos e os seus membros são de várias procedências: Inglaterra, América, Holanda, Itália, Espanha, Portugal, Palestina, etc. Pode-se dizer que é uma comunidade isolada da realidade urbana. Os que a procuram, depois de fazerem um tempo de adaptação, querem viver perto da natureza. É interessante ver que, neste tempo em vivemos, há pessoas que querem um estilo de vida diferente, afastado do mundo da tecnologia e das novidades do nosso tempo.

Re-envangelização do povo
Nas nossas visitas familiares que foram feitas nesta missão popular pude observar que há muito a fazer na área da missão e da re-evangelização do povo. Encontramos muitas pessoas que estão totalmente na ignorância no que diz respeito à religião. Algumas delas, a causa é a influência da ciência e do modernismo (mais novos e com alguns estudos) e outras, por causa do anti-clericalismo (mais velhos). Por motivos diferentes, uns e outros, não querem saber nada de Deus nem da Igreja.
Nesta base de constatação, julgo ser necessário, nestas e noutras aldeias, uma catequese forte, duradoira e contínua para que mais alguns possam abraçar a fé. É muito triste, ir para uma terra, e ver que os nossos jovens, o futuro do mundo e da Igreja, morrem na ignorância e indiferença no que diz respeito a Deus e à Igreja. Por isso, como sugestão, proponho que haja missão contínua e intensa nos locais mais interiores da nossa diocese, nunca esquecendo as famílias. As nossas famílias, modernas ou não, necessitam de uma catequese forte, para uma renovação dos valores e para uma re-evangelização, para ser de facto, a Igreja domestica.
Agradeço imenso ao pároco, Pe. Reuber, e ao Pe. Agostinho, pela oportunidade que me deram para participar nesta Missão Popular. Que Deus seja a nossa recompensa! Que, por intermédio dos missionários, Nossa Senhora das Missões continue a chamar mais homens e mulheres para ‘fazer tudo o que Jesus disser’ e estarem atentos ao que Deus quer!

Ikechukwu Mary Godfrey A. Okeke – Nigeriano
(Seminarista da diocese de Beja,

a fazer estágio na paróquia de V. N. Milfontes)

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