Mais de três dezenas de pessoas das paróquias de Sabóia, Santa Luzia, S. Martinho das Amoreiras, Relíquias e Colos participaram no 15º Encontro de Formação para Animadores da Comunidade. Aconteceu no passado sábado, 12 de Abril, no Salão da Junta de Freguesia de Colos e contou com o apoio da Santa Casa da Misericórdia. O tema “Cuidar da Fé-Cuidar do Homem” foi tratado pelo P. Fernando Soares, da comunidade vicentina de Viseu.
O momento de oração inicial, com a parábola do Bom Samaritano e a palavra de Jesus “Vai. Faz tu também o mesmo”, deu o mote ao tema do dia. O orador, por sua vez, ensaiou o cântico “Como o Pai me amou!” e, a partir dele, abriu a reflexão que conduziu a um trabalho de grupos.
A Fé é uma Bênção
Como a vida, a fé é um dom frágil. A partir da carta aos Efésios, o P. Fernando, começou por abordar a fé como uma bênção que nos faz filhos de Deus, herdeiros das suas bênçãos, cristãos, enriquecidos pela graça de Jesus que nos orienta para a santidade e para o amor. A fé enriquece e renova a existência humana e, por ela, aprendemos a ver a vida e os outros com mais confiança, ânimo e responsabilidade. De seguida, apontou as dificuldades para a vivência da fé: a indiferença religiosa e as dúvidas do ambiente social, as críticas à igreja, a desconfiança em Deus devida aos sofrimentos e tragédias, o comodismo e a dificuldade de sacrifício.
Seguindo um autor (de seu nome, Armando Matteo) que escreveu recentemente sobre a primeira geração incrédula (a difícil relação entre jovens e fé), apontou alguns caminhos a seguir: uma fé jovem (manter um espírito jovem que leve o cristianismo a um contínuo “acompanhar o ritmo”), a gramática da fé (primado do amor a Deus e ao próximo), fazer dieta (requer uma racionalização e hierarquização dos interesses: deixar o que tem pouco interesse e ir ao encontro do que é essencial), um cristianismo com iniciativas personalizantes e personalizáveis, captar o grito (que pede esperança para o futuro para criar uma nova “solidariedade e justiça” entre jovens e adultos).
A fé defende a dignidade do homem
Seguindo um esquema, claro e incisivo, o P. Fernando, apontou uma série de pontos para justificar que, sem a fé, ficamos mais pobres: diluem-se os critérios do bem e do mal; perde-se a orientação do percurso da existência; esbate-se o sentido da dignidade humana; o homem julga-se dono absoluto de si e da vida, perdem-se referências de aperfeiçoamento da humanidade (servir e dar a vida, amar o próximo, perdoar, não julgar). Pelo contrário, a fé leva-nos a procurar o verdadeiro rosto de Deus, manifestado em Cristo, a descobrir a beleza do homem criado à imagem e semelhança de Deus, a vencer o vazio, a alimentar a vida espiritual e a cultivar os frutos do Evangelho. Tudo isto leva a renovar o homem e a sociedade e ajuda a cuidar dos outros ao jeito de Jesus, anunciando a misericórdia e a esperança, ir ao encontro dos pobres e dos pecadores, com a atitude do Bom Pastor que procura e acolhe a ovelha perdida. Desta forma, cuidar é sinónimo de educar, em todas as dimensões (física, intelectual, moral e espiritual). No dizer de Bento XVI, “educar é conduzir para fora de si mesmo, ao encontro da realidade, rumo a uma plenitude que faz crescer a pessoa”.
Olhar o homem à luz de Deus
A renovação do homem e da sociedade, à luz destes princípios, leva a respeitar a sua dignidade de filho do mesmo Pai, como irmão; a um olhar de amor e de misericórdia, a um olhar de fraternidade e de simpatia traduzida no diálogo, no acolhimento a todos, na aproximação aos que necessitam de ajuda (periferias). Tudo isto, exige que nos façamos próximo do outro, ao jeito do bom samaritano (ver, inclinar-se, tocar e dar a mão, levantar os caídos, ajudar os necessitados.
Os trabalhos foram decorrendo a bom ritmo. Foram formados quatro grupos para reflectir um texto de Mia Couto, intitulado “Geração à rasca”. Todos os grupos partilharam as inquietações do autor e ao mesmo tempo de cada um dos intervenientes.
Um pequeno feixe de ideias poderá sintetizar a reflexão: Há um caminho estreito a percorrer, sendo necessário estar preparado para enfrentar as dificuldades e provações da vida; é urgente passar do “eu” para o “outro” para o “nós” e para a comunidade, o que exige a renúncia de si mesmo para alcançar a verdadeira liberdade e dignidade sempre associadas ao serviço e à participação na comunidade.
Neste caminho estreito, a fé leva-nos a acreditar e a crescer numa vida nova e a semear o mundo novo do Reino de Deus. Tal desafio é esperança e incentivo na construção de um futuro mais fraterno e justo.
Como remate final, ficou a citação: “A fé é luz que vem do futuro, que descerra diante de nós horizontes grandes e nos leva a ultrapassar o nosso “eu” isolado abrindo-o à amplitude da comunhão” (LF 4).
Mais um Encontro de Formação no contexto de Missão Popular. Os participantes mostraram-se agradados com a temática e com o ambiente criado à volta desta acção de formação. Muitos deles disseram que estes encontros devem continuar. Com esta convicção, anuncia-se que o próximo encontro será a 17 de Maio, em Almodôvar.
P. Agostinho Sousa, CDM/Beja
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