"Ad Gentes"


Testemunho
Um Ano de Voluntariado Missionário

Chegada de Itoculo- Moçambique, à algum tempo, só agora me sinto capaz de vos transmitir algo do que foi, sem dúvida, a melhor experiência da minha vida.
O regresso não é fácil como parece. O facto de deixarmos de dar tanto o quanto dávamos, de perder aquele efeito surpresa, de não receber aquela alegria todos os dias, afecta muito o regresso. Ainda assim, a vida continua e, por enquanto, em Portugal. Ele há-de saber o resto do meu caminho!



Uma experiência de voluntariado Missionário como a que realizei durante um ano em Itoculo, Moçambique, é o que aconselho vivamente a todos.
Para além de dar uma grande abertura a novas culturas, povos e situações, também dá uma experiência humana muito forte e gratificante. Pelo menos, foi o que aconteceu comigo. Para além do trabalho intensivo e maternal desenvolvido com as meninas do Lar Eugénia Caps, o que vivi e aprendi com as crianças da Infância Missionária, as pequeninas do centro de Nutrição, os Jovens da paróquia, e todos os Papás e Mamãs que mostravam sempre tanto carinho por mim, fez-me sentir realizada e, posso dizer, que “fui feliz todos os dias!”.
O trabalho realizado directamente na paróquia com as catequeses e o envolvimento com a Justiça e Paz fez-me ter sede de ajudar o povo, sede do Evangelho e de sabê-lo melhor para transmiti-lo sempre aos que precisam tanto dele.
Um ano é muito pouco, mas consegue-se ver algum do trabalho feito, já a florescer e isso traz uma realização e uma satisfação enormes, traz, principalmente, um agradecimento Àquele que é o grande responsável por tudo isto. A Família que lá me acolheu, os Padres e as Irmãs (Missionários do Espírito Santo) são verdadeiras pedras preciosas no meio daquele povo. O seu testemunho de vida inspira qualquer um à dádiva, à partilha, à missão e o que eles conseguem fazer com o povo e para o povo é algo de fantástico.



O acolhimento e dedicação que tiveram para comigo foi sempre 5 estrelas. No primeiro dia já conversávamos sobre assuntos da casa para que todos participássemos…
Sinto e, cada vez que falo dela, digo “lá em casa” e isto é muito bom. Aquela área é realmente uma zona muito pobre e há muito trabalho a ser feito, trabalho que não acaba.
Depois da minha chegada e da minha colega Rita Coelho que me acompanhou nesta missão, partiram mais 2 leigos Espiritanos, o Miguel e a Babuxa que foram trabalhar naquela missão e na paróquia.
Espero e peço que, assim como rezaram por mim, – sim, porque eu senti as vossas orações- rezem por eles também para que a sua missão seja tão ou mais feliz do que a minha foi.
Para além disso, peço a todos que rezem pelas missões, por todos aqueles que dão a vida pelos irmãos assim como o nosso Amiguinho Jesus o fez. Mas, também não se esqueçam que rezar só não chega… é nas acções, é no gesto, é no compromisso que se faz a missão.


Arrisquem! Como as meninas da 8ª Classe do Lar Eugénia Caps de Itoculo me aconselharam, aconselho-vos eu também - “Não podemos deixar para amanhã, amanhã não haverá tempo!”.



Alexandra Martins – JSF e membro do CDM/Beja



História do Decreto conciliar “Ad gentes”

A casa internacional da Congregação do Verbo Divino, está situada em Nemi (Itália), a pouca distância do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, onde o Papa Bento XVI (e os seus antecessores) costuma passar um breve período de repouso, tem o nome de “Centro ad Gentes” desde 2010. Foi justamente nesta casa que em 1965, se reuniu a Comissão sobre a Missão do Concílio Vaticano II, encarregada de preparar o documento sobre as missões “Ad Gentes”. Alguns teólogos participaram nesta reunião da preparação, na qualidade de peritos. Entre eles esteve o teólogo Joseph Ratzinger, que nessa época tinha 38 anos.

“Ad Gentes (como conta em livro de 2009, o Pe. Stephen Bevans, dos missionários do Verbo Divino, “Evangelization and Religious Freedom: Ad Gentes, Dignitatis Humanae, Paulist Press”) teve um começo inusitadamente turbulento. Uma primeira versão apresentada aos Padres Conciliares nos finais de 1964, e defendida por Paulo VI, foi retirada, mesmo sem ter ido a votação (o próprio Ratzinger se opôs a ela).

Foi então, que o Superior Geral dos Missionários do Verbo Divino, o padre Joahannes Schütte, recebeu o encargo de formar uma nova comissão que elaborasse um novo esquema de documento sobre a actividade Missionária da Igreja, tomando em conta as sugestões da Assembleia Conciliar. Formaram parte dessa comissão quatro bispos e cinco peritos (entre os quais faziam parte para além de Ratzinger, Yves Congar) que se reuniram na casa de Nemi de 12 a 26 de Janeiro de 1965.

«Revolução» na forma de encarar e praticar a missão



Em 7 de Dezembro de 1965, o Papa Paulo VI promulgava o decreto Ad gentes, sobre a «Actividade Missionária da Igreja» um dos documentos mais relevantes e mais «trabalhosos» que resultaram do Concílio Vaticano II. A ele se deve toda uma «revolução» na forma de encarar e praticar a missão. E também o respeito pela cultura, pela história e pelas religiões dos povos a evangelizar.

O tema das Missões ocupou uma das dez comissões preparatórias do Concílio Vaticano II. Depois de muitas reuniões, o resultado foi um texto muito jurídico, com sete capítulos, em que a preocupação principal não era teológica, mas administrativa. O rascunho não tomava em consideração as muitas questões de ordem prática, ou seja, as questões levantadas pelas próprias missões.

A comissão dedicada ao tema foi constituída logo no princípio do Concílio – que oficialmente teve início em Outubro de 1962, mas cujos trabalhos preparatórios duravam desde Janeiro de 1959 e só viriam a ser dados como encerrados em Dezembro de 1965. Porém, os avanços não foram grandes e muito menos rápidos. Alguns padres conciliares chegaram mesmo a propor que se incluísse o tema na Constituição sobre a Igreja. Na comissão havia divergências notáveis.

O texto mais votado

Em Novembro de 1964, a comissão conciliar decidiu elaborar um esquema totalmente novo que tivesse em conta as intervenções dos padres conciliares e a doutrina produzida até à data pelo próprio Concílio. Foi constituída uma subcomissão de cinco pessoas, entre as quais se contava o padre João Schütte, Superior-geral da Congregação do Verbo Divino. A subcomissão deu-se imediatamente conta de que necessitava de trabalhar durante mais tempo e num lugar sossegado.

Por sugestão do padre Schütte, a escolha recaiu na residência de Verão do Generalato da sua congregação, em Nemi, nos arredores de Roma; aí, durante 15 dias de trabalho exaustivo, elaborou-se algo de realmente novo: uma boa base teológica, que tinha sido precisamente o que até aí faltara. Diga-se que esta subcomissão era assessorada por cinco teólogos, entre os quais se contavam Yves Congar e o actual Papa, Joseph Ratzinger.

O texto da subcomissão era equilibrado e foi bem aceite. A comissão conciliar voltou a reunir-se em Nemi, de 29 de Março a 10 de Abril, para elaborar a versão definitiva do texto. Esta seria apresentada na Aula Conciliar pelo próprio P. João Schütte, que salientou os aspectos mais importantes do texto. A apresentação deve ter sido brilhante: o documento recebeu a quota mais elevada de votos de todos os documentos do Vaticano II: 2.394 a favor e apenas cinco contra.

Já faltava pouco. A subcomissão voltou a reunir-se para integrar as propostas de emenda feitas pelos padres conciliares. E, finalmente, no dia 7 de Dezembro de 1965, o Papa Paulo VI promulgava o Decreto Ad gentes sobre a actividade missionária da Igreja.

(Texto: P. Jorge Fernandes e outro, SVD-2006)
Recolha: P. Agostinho Sousa, CDM




“Ad Gentes”, Bento XVI e Verbitas



O Papa visitou a Casa dos Verbitas (Sociedade do Verbo Divino – SVD) na cidade de Nemi, próxima do Vaticano e do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, nos arredores de Roma, onde actualmente passa férias. Bento XVI falou da “belíssima recordação” que guarda do local, “talvez a mais bela de todo o Concílio”.
“Estar aqui nos espaços verdes, ter este respirar da natureza e também esta frescura de ar era já em si uma coisa bonita. Depois, havia a companhia de tantos grandes teólogos, com uma missão tão importante e bela de preparar um decreto sobre a missão”, disse.
A visita à casa, agora denominada Centro Ad Gentes, nome do documento conciliar sobre as missões, iniciou-se em Castel Gandolfo, num trajecto de automóvel de aproximadamente 15 minutos.
Bento XVI afirmou que em 1965 era “um teólogo sem grande importância, muito jovem” que viveu uma experiência de “enriquecimento espiritual”. O Papa evocou o decreto ‘Ad gentes’ como um documento “bom e bonito”, de consensos e “sem grandes controvérsias”, em que tudo convergia “num único dinamismo da necessidade de levar a luz da Palavra de Deus, a luz do amor de Deus ao mundo”. Tudo o que é bom, prosseguiu, tem necessidade de “comunicar-se, de dar-se”, não pode permanecer em si próprio.
Bento XVI despediu-se com elogios ao “dinamismo missionário” dos Verbitas, frisando que este só existe com a “alegria do evangelho”, a “experiência de bem que vem de Deus”.
A deslocação teve carácter privado, como aconteceu com as de outros dois Papas: João XXIII, a 23 de Agosto de 1962, e de Paulo VI, a 6 de Setembro de 1965.
Bento XVI foi recebido pelos padres Heinz Kuluke, superior geral eleito, Antonio Pernia, superior geral, e Giancarlo Girardi, Procurador-Geral, dirigindo-se seguidamente à capela da casa, onde o esperavam os participantes na assembleia mundial (Capítulo Geral) dos Verbitas e membros da comunidade da cúria de Roma da congregação, num total de 150 pessoas.
(notícia Ecclesia)
A saudação do Papa aos capitulares
“Estou realmente agradecido pela possibilidade de rever esta casa de Nemi depois de 47 anos. Tenho de tudo isto uma bela recordação, talvez a melhor recordação do tempo do Concílio. Vivia no centro de Roma, no Colegio de Santa Maria dell’Anima, no meio de muito barulho: tudo isso é bonito. Mas estar aqui no meio do verde e poder respirar o ar puro e fresco da natureza era já, de si, algo de muito agradável e belo.
Por outro lado, a companhia de tão grandes teólogos que tinham a responsabilidade de preparar um decreto sobre a missão. Antes de mais recordo o Superior Geral daquele tempo, o Pe. Schütte, que tinha sofrido na China, fora condenado e depois expulso. Estava cheio de dinamismo missionário, da necessidade de dar um novo alento ao espírito missionário. E eu, que era um teólogo sem grande importância, muito jovem, convidado não sei por quê. Mas tudo isto foi um grande dom para mim.
Estava também Fulton Sheen, que nos encantava pela noite com as suas reflexões; o Pe. Congar e os grandes teólogos de Lovaina. Para mim constituiu um grande enriquecimento espiritual e uma grande oportunidade.
Era um decreto sem grandes controvérsias. Havia uma controvérsia que não entendia muito bem entre a escola de Lovaina e a de Münster: a finalidade principal da missão é a implantação da Igreja ou o anúncio do Evangelho? Mas tudo convergia num único dinamismo: a da necessidade de levar a luz da Palavra de Deus, a luz do amor de Deus ao mundo e de transmitir uma alegria nova neste anúncio.
E foi assim que nesses dias nasceu um bom e belo decreto, que foi aceite quase unanimemente por todos os padres conciliares e que é para mim um complemento da Lumen Gentium, pois nele encontramos uma teologia trinitária que parte sobretudo da ideia clássica do bonum difusi sui, o bem que contém em si a necessidade de se comunicar, de se dar: não pode ficar em si mesmo, a realidade boa, a própria bondade é essencialmente comunicação. Isto existe no mistério trinitário, na própria essência de Deus e se difunde na história da salvação e na nossa necessidade de dar aos demais, o bem que recebemos.
Assim com estas recordações pensei nestes dias muitas vezes em Nemi, que constitui para mim parte importante a minha experiência do Concílio. E fico contente por constatar que a vossa Congregação vai florescendo – o Pe. Geral falou-me de seis mil membros em tantos países e nações. O espírito missionário vive claramente e vive na medida em que é a alegria do Evangelho, se o vivemos como a experiência do bem que vem de Deus que deve e se quer comunicar.
Obrigado por este vosso dinamismo. Desejo-vos da parte do Senhor as bênçãos para este vosso Capítulo e muita inspiração. Que a força inspiradora do Espírito Santo que nos acompanhou quase visivelmente naqueles dias, esteja hoje de novo presente no meio de vós e vos ajude a encontrar o caminho para a vossa congregação e para a missão do anúncio do evangelho ad gentes para os próximos anos. Obrigado a todos, que o Senhor vos abençoe. Rezai por mim como eu rezo por vós. Obrigado!” (Bento XVI)
(in blog da Paróquia de Almodôvar)


Verbitas na diocese de Beja



Entre os capitulares na casa Nemi encontrava-se o P. José Antunes da Silva, actual provincial dos Verbitas, em Portugal e recém-eleito, conselheiro geral da Congregação, para a Europa.
Os Padres Verbitas, como congregação, nasceram em 1875, fundada por Santo Arnaldo Janssen, formam uma grande família internacional de padres e irmãos religiosos, espalhados pelos cinco continentes (setenta países e mais de seis mil membros) e em todas as comunidades há pessoas de diferentes culturas e países.
Têm comunidades em diversas localidades do nosso país: Tortosendo, Guimarães, Fátima, Lisboa, Prior Velho, Almodôvar e Nisa. A 12 de Janeiro de 1949, chegaram a Tortosendo, que fica a ser a casa-mãe dos Missionários do Verbo Divino, em Portugal.
Desde 1993, os Padres Verbitas assumem a Região Pastoral de Almodôvar, onde se encontram três sacerdotes: Padres Joaquim Martins Valente (Amêndoa- Mação), Florianus Jaling (Indonésia), e Pradeep Kumar Kullu (Índia). Estes são párocos “in sollidum” de Almodôvar, Santa Clara a Nova, Santa Cruz, Graça dos Padrões, Aldeia dos Fernandes, Gomes Aires e S. Barnabé.
(Recolha: P. Agostinho Sousa, CDM)