terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Advento:



Tempo de missão e de espera para a humanidade

O tempo de Advento, e em particular a quadra da Solenidade da Imaculada Conceição, é data singular de aniversário de documentos de cariz missionário: Decreto conciliar Ad Gentes (7.12.1965); Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI (8.12.1975); Redemptoris Missio, de João Paulo II (7.12.1990).

Em Novembro, um pouco antes do início do novo ano litúrgico, o Papa Francisco, apresentou a sua primeira Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”. Neste documento, o papa afirma que “a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria…Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo!…Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida”. (Papa Francisco, Exortação apostólica Evangelli Gaudium, 24 de Novembro de 2013).
Com a «Alegria do Evangelho», como ensina o Papa Francisco, começamos um novo ano litúrgico. Com o contentamento e o compromisso missionário, seguimos ao encontro do Senhor que vem também no próximo Natal. «Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo!».
Desde o começo do tempo de Advento, aparece o tema forte da paz e do desarmamento (I leitura do I domingo). Nós, cristãos, temos aqui mais um motivo para uma opção única, definitiva, total em favor da paz e do desarmamento. A redução-eliminação das armas, antes ainda de ser uma decisão política, é um imperativo que nasce da fé em Cristo. Em nome desta fé, devemos protestar e denunciar os governos pelos incrementos nas despesas militares e na construção de novas armas de morte.
Isaías é também o profeta da universalidade da salvação de Deus, que é oferecida a todos os povos (v.2). Nós, cristãos, que já acreditamos em Cristo, sabemos que o Salvador já veio, que vem e que virá, enquanto que os não cristãos - que são a maior parte da humanidade (cerca de dois terços) - esperam ainda o primeiro anúncio de Cristo Salvador. Por isso, o Advento é um tempo litúrgico propício a reavivar nos cristãos a consciência da responsabilidade missionária. Isso mesmo recomendava já o Papa Pio XII, há 50 anos, quando convidava ao compromisso missionário e à oração, especialmente no Advento, que é o tempo de espera da humanidade. 


Nas pegadas dos missionários
São três, os personagens principais que, no tempo do Advento, se preparam ao encontro com Cristo: O profeta Isaías, João Baptista e Maria. Cada um dos três tem um relacionamento missionário muito particular com o Messias-Salvador que vem: Isaías preanuncia-o, João mostra-o já presente, Maria recebe-o e oferece-o. Também, outros “pobres de Javé ” do Primeiro Testamento viviam à espera de um Messias, mesmo se para muita gente essa espera era confundida e misturada com esperanças humanas.
Ainda hoje a esperança é um valore em crise de conteúdos, porque muita gente não sabe bem do que é que têm maior necessidade para um crescimento integral da sua vida. A esperança cristã é um dinamismo de abertura e de encontro orientado para uma Pessoa conhecida e da qual nos sentimos profundamente amados: é o Salvador de todos, com um nome e um rosto bem definidos. Chama-se Jesus Cristo. Ele é o centro do anúncio missionário da Igreja. À “esperança cristã” o Papa Bento XVI dedica a sua segunda encíclica Spe salvi (na Esperança fomos salvos - Rm 8,24). Se a caridade é o coração da fé cristã - porque Deus é amor! - a esperança é o dinamismo  que a mantém viva no tempo e no espaço; a alma que sustenta o anúncio missionário do Evangelho em todas as latitudes e entre todos os povos.
O profeta Isaías, oito séculos antes do nascimento de Cristo, em tempos de violência e desolação, foi capaz de cantar a esperança num futuro de vida, de reconciliação e prosperidade para o seu povo. Em situações análogas de sofrimento, também um outro jovem profeta, Jeremias, foi capaz de ver a amendoeira em flor (Jer 1,11). Onde todos viam só negatividade, os profetas viam além, mais longe, uma história de esperança diferente: a história de Deus que conduz todos à salvação. Isaías via desabrochar um rebento, que logo se enchia do espírito multiforme do Senhor. E descreve o estupendo jardim da convivência pacífica de todos os viventes (animais e pessoas) entre si, e deles com a criação (v. 5-9). Só um povo que vive assim, na justiça e na harmonia de relações, tem algo de positivo a dizer aos outros, pode tornar-se um “estandarte para os povos”. Só assim terá algo de verdadeiro e de bela a partilhar na assembleia das nações. E assim se torna numa comunidade missionária!
João Baptista, profeta austero e interiormente livre, prepara, com palavras de fogo, o caminho para o Senhor que vem depois dele, baptiza “com água para a conversão”, anunciando a presença de um mais forte do que ele, que “baptizará em Espírito Santo e no fogo”. Por isso João grita: “Convertei-vos”.
Existe uma criatura plenamente convertida, isto é, orientada para Deus, cheia de Espírito Santo: é, exemplarmente, Maria, toda pura, sem mancha; é Imaculada. Ela acolheu o seu Senhor e deu-lhe corpo humano; agora oferece-o a todos, também àqueles que ainda não o conhecem.
O Advento é um tempo privilegiado para viver a missão: no Advento e Natal o Senhor vem a nós; não faltará ao encontro. Mas Ele quer ir ao encontro de outros também através de nós. Que este tempo de Advento seja um tempo de missão e de espera para toda a humanidade sedenta e aberta e que aguarda e prepara a chegada do Messias-Salvador.


P. Agostinho Sousa, CDM/Beja

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