Dentro do programa da Missão Popular que está a decorrer em Porto Covo de 19 de Janeiro a 2 de Fevereiro, realizou-se o 13º Encontro de Formação para Animadores da Comunidade.
O tema do encontro “Iluminados pela Palavra: ‘Lectio Divina’ foi apresentado pelo Cónego António Domingos Pereira, Vigário Geral da Diocese de Beja.
Estiveram presentes cerca de 30 pessoas, provenientes das paróquias de Colos, Grândola, Santo André e Porto Covo. De Porto Covo estiveram, sobretudo, pessoas que participaram nas 3 Comunidades familiares, nascidas na Missão. Mais algumas que mostraram vontade de participar, por questões de trabalho, não o puderam fazer.
Após o acolhimento e a apresentação dos participantes e do momento de Oração de Louvor, deu-se início aos trabalhos deste dia de reflexão e partilha. O tema “Iluminados pela Palavra” é o lema da diocese de Beja para este ano pastoral, bem como a base das catequeses do Sínodo diocesano.
O conferente, em tom leve, de forma simples e numa linguagem acessível a todos, foi apresentando aquilo que pode nem ser simples nem fácil: a compreensão da Palavra de modo a que esta se torne luz.
Importância da palavra
Qual o valor, a importância que a Palavra tem na nossa vida? Foi a primeira questão que foi colocada. A palavra desfaz as ambiguidades, revela o verdadeiro sentido das coisas. É penetrante, sobretudo, para quem a “escuta”. Ela tem o objectivo de dar sentido às coisas, isto é, de dar vida ao que está morto (por exemplo, a leitura dos sinais da natureza: uma imagem, presente numa rocha, umas pegadas na areia da praia, etc.). Até ao momento em que alguém lhe atribua um sentido, tal cenário ou momento não tem vida. Porém, esse sentido pode ser abstracto e só tem valor para quem o atribuiu. A palavra também pode ser mal interpretada; então o gesto, acompanhado pela palavra, explica-a, tira-lhe a ambiguidade, dá-lhe sentido.
Maria e a Palavra
Há palavras que envolvem um mistério. Maria, conhecia as Escrituras e, tal como os outros judeus, estava na expectativa da vinda do Messias. Através das palavras do anjo Gabriel entendeu o desígnio de Deus sobre ela. Adere a esse projecto e reafirma a sua adesão, dando uma resposta: “Faça-se em mim, segundo a Vossa Palavra”. Maria poderia não ter entendido a palavra. Poderia não ter aderido ao desígnio de Deus sobre ela.
Quando se escuta a Palavra com o coração, ela pode iluminar a nossa vida. Os acontecimentos tornam-se outros. Muitas vezes, o projecto de Deus a nosso respeito, não dá fruto porque não estamos atentos à escuta da Palavra ou, então, “obrigamos” Deus a alterar o seu projecto a nosso respeito.
Acolher ou não a Palavra
Em oposição a Maria ou a Samuel, que souberam escutar a palavra e seguir o projecto de Deus a seu respeito, o Evangelho narra-nos a experiência do jovem rico que não se deixou iluminar pela palavra, não aderiu à proposta de Jesus e saiu de cena “contristado”. Por amor, Deus dá-nos sempre outra hipótese, procura criar outro caminho para nós para nos salvarmos.
O valor da palavra vem de quem a diz; a autoridade de um pai ou de uma mãe ou de alguém cuja conduta de vida inspira confiança. Os nossos gestos e atitudes ou silêncios, também podem falar. Podem ter a força da palavra. Num caso recente (visita do presidente de França ao Vaticano), todos se deram conta do semblante, não sorridente, do Papa Francisco perante alguém que tem tido comportamentos reprováveis, à luz da Palavra e do pensamento da Igreja.
O Verbo fez-se carne
Jesus Cristo é a Palavra, o Verbo de Deus. As obras de Jesus falam das obras de Deus. Através das suas palavras Jesus atrai a si, fascina. É esse fascínio que faz com que alguns deixem tudo e o sigam. Foi assim com Samuel, com Maria, com os Apóstolos; foi assim com os santos e continua a ser assim nos nossos dias para todos aqueles, religiosos ou leigos, que deixam os seus lugares de “conforto” para O seguirem.
O ouvir e o escutar
Há o ouvir e o escutar. Escutar é mais do que ouvir. Escutar é ouvir com o coração. E escutar com o coração também pode ser renunciar às nossas coisas, ao nosso eu. É necessário estar disponível, porque quando se escuta a Palavra com o coração acontece sempre alguma coisa de novo. Assim, a Palavra escutada tem de ser vivida, tem de produzir obras, caso contrário, permanece estéril. É preciso escutar a Palavra para que ela nos ilumine e nos transforme em boa semente.
A Bíblia é, por excelência, o livro de oração pessoal e comunitária. Na Bíblia, Deus manifesta-se a cada um e à comunidade reunida. Deste modo, deveríamos criar o hábito de nos reunirmos periodicamente para escutar e nos deixarmos interpelar pelas Suas palavras.
Como sugestão, o P. Domingos lançou a ideia de se fazer a preparação das leituras do domingo seguinte, em particular ou em família, para que, reunidos em comunidade mais alargada, pudéssemos acolher melhor a mensagem que Deus tem para nos transmitir com aqueles textos.
Refazer as forças à volta da mesa e da Palavra
Cerca das 13 horas, o auditório transformou-se rapidamente em “sala de refeições” onde pudemos partilhar não só um excelente almoço partilhado, mas também a experiência que estamos a viver nestes dias. Após este momento onde nem faltou o café oferecido pela Junta de Freguesia, prosseguiram os trabalhos com a continuidade do tema, com um exercício de “Lectio Divina”, feito em grupo, a partir da leitura do Evangelho do terceiro domingo comum, seguindo os quatro passos principais: Leitura do texto (neste caso, Mt. 4,13-23), meditação, oração e contemplação.
Grupos Missionários Paroquiais
Quase a encerrar o encontro, o Padre Agostinho apresentou o projecto do Centro Diocesano Missionário: Propor e incentivar a criação de Grupos Missionários Paroquiais, convidando os participantes a exercerem as suas actividades na paróquia com espírito missionário. Ser missionário não significa necessariamente ter de partir, por exemplo, para a África, pois a missão é ir ao encontro do outro. Pode começar na nossa cidade ou aldeia, no nosso bairro ou mesmo dentro da nossa casa.
O dia de formação deixou nos participantes um sentimento comum de que estes Encontros são indispensáveis para fundamentar as “razões nossa fé” e descobrir a dimensão missionária do baptismo. Tal sentimento foi bem expresso numa frase de uma participante: “foi um dos pequenos-grandes momentos que dão sentido à minha vida”.
Marieta Costa,
Equipa Missionária, em Porto Covo