quarta-feira, 24 de abril de 2013

Trabalho e desemprego



1. O trabalho e a dignidade da pessoa


Na última nota escrevia que iria apontar algumas sugestões de caminhos para darmos ao nosso povo, que vejo e sinto muito desiludido e desanimado, razões profundas e concretas de esperança. Nessa nota falei de um caminho que pressupõe a fé e a vocação ao serviço na vida e missão da Igreja e que dá aos vocacionados rasgados horizontes de sociabilidade e de realização.
Hoje irei apontar um outro, que é universal, extensível a todo o ser humano. Trata-se do trabalho, lei fundamental para a realização da dignidade da pessoa, na totalidade das relações da sua existência: com a natureza envolvente, consigo mesmo e com os outros, a começar pela família. Não vou falar do trabalho na sua vertente do emprego remunerado, embora esta seja a via normal e concreta nas sociedades contemporâneas. Se apenas tivesse este tipo de ocupação em mente, então teria de concluir que vivemos numa sociedade cada vez mais infeliz, atendendo às taxas crescentes de desemprego. E talvez até haja muita verdade nesta afirmação. Por isso teremos de encontrar possibilidades de trabalho, mesmo que não seja em regime de pleno emprego remunerado.
Ao ler um livro de entrevistas ao arcebispo de Buenos Aires, cardeal Jorge Mário Bergoglio, actual Papa Francisco, deparei com afirmações muito fortes neste sentido. Ao falar dos muitos desempregados que encontrou ao longo da sua vida, afirma tratar-se de gente que não se sente pessoa. Por mais que as suas famílias e os seus amigos os ajudem, querem trabalhar, querem ganhar o Pão com o suor do seu rosto. É que, em última instancia, o trabalho unge de dignidade a pessoa... A dignidade, enquanto tal, só vem pelo trabalho... Um exemplo típico é o do emigrante que chega sem nada, luta, trabalha e com isso “faz a América”.

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