quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

NATAL DO AMOR E DA JUSTIÇA




Nesta época do ano somos mais propensos à saudade e sentimos a ausência de certas pessoas mais próximas e de valores significativos da nossa dignidade humana. Isto quer dizer que o Natal, tanto para quem acredita que a criança cujo nascimento recordamos, Jesus Cristo, é Deus conosco, mas também para quem é indiferente ou agnóstico, faz parte do nosso património coletivo e, direta ou indiretamente, desperta em nós algo que tem muito a ver com o seu verdadeiro sentido.

O amor tem sempre uma dimensão transcendente

Em primeiro lugar, todos temos necessidade de ser amados e amar, com tudo o que isso implica. Mas também sentimos os limites e fragilidades do amor que depende apenas da liberdade de cada pessoa. O amor tem sempre uma dimensão transcendente, a que podemos chamar de divina. Os cristãos afirmam que o amor vem de Deus e foi derramado nos nossos corações. Se da nossa parte é frágil e, por vezes, infiel, da parte da sua origem é infinito e fiel. Esta fidelidade do amor de Deus torna-se visível no nascimento de Jesus Cristo, na sua vida e no dom da sua vida. Esta certeza e comunhão com ele dá consistência às nossas relações profundas no mundo em que estamos inseridos, sendo a família a primeira concretização desse amor fiel. Por isso o Natal tem muito a ver com família, não apenas a família de Nazaré, mas também a nossa. Quem vê a sua família destroçada, a sofrer com problemas de saúde, de entendimento ou de subsistência, anseia por uma realidade diferente.

Dar a cada um o que lhe compete

Natal tem a ver com a família, com o amor, mas também com a justiça e a reparação das injustiças. Não se trata apenas da justiça dos tribunais, que funcionam mal, são dispendiosos e pouco acessíveis aos pobres, que por vezes prescindem de reclamar que lhes seja feita justiça. Mas é sobretudo no sentido de dar a cada um o que lhe compete e da reparação dos males irremediáveis, que as cadeias não conseguem fazer, que a humanidade geme e anseia pela justiça e pela paz entre os povos, as famílias, os grupos e as pessoas. Também neste sentido o Natal vem colmatar este desejo profundo do ser humano. Jesus vem curar as nossas feridas e reconciliar quem o acolhe com Deus, os seus semelhantes e a natureza. É desta justiça e harmonia entre todos os seres que fala a Sagrada Escritura, com imagens muito fortes no profeta Isaías, cuja leitura nos acompanhou durante o tempo de Advento, as quatro semanas antes do Natal.

Mais solidários uns para com os outros

É este Natal do amor a partir da família e da justiça que desejo para todos os diocesanos e amigos, sobretudo para aqueles que mais sentem a sua falta. Espero que a celebração deste Natal de 2011, olhando para o Menino Jesus, a manifestação do amor fiel e salvador de Deus para com a humanidade, fortaleça os crentes no amor, na concórdia e na comunhão familiar, nos torne mais solidários uns para com os outros, torna a nossa justiça mais célere e verdadeira, para evitar o pleonasmo de dizer justa, e dê um forte impulso à nossa esperança, para vencermos os medos, o desânimo e a crise. 



 Deus não nos livra das dificuldades, mas dá-nos força e sabedoria para as superarmos

Da minha parte acredito que iremos sair vencedores, tornando-nos mais unidos, solidários, corajosos e justos ao longo de 2012, que muitos vaticinam de mais difícil que 2011. Como dizia um jovem no encerramento dum convívio fraterno em Beja, Deus não nos livra das dificuldades, mas dá-nos força e sabedoria para as superarmos. É isso que eu acredito e peço para todos. Ao partilhar esta fé e convicção desejo a todos um Natal cheio de amor e carinho e um novo ano repleto da sabedoria, coragem e fidelidade semelhante à de Jesus, que para nós nasceu pobre, viveu fazendo o bem a todos sem acepção de pessoas e doando a sua vida para salvação de todos, para que, assim como ele fez, façamos nós também.

† António Vitalino, Bispo de Beja


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