terça-feira, 30 de junho de 2015
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Ecologia integral
1. Cuidar do mundo e dos outros
No dia da sua entrada solene como sucessor do apóstolo Pedro, a 19 de Março de 2013, o Papa Francisco convidava-nos a guardar Cristo nas nossas vidas, para guardar os outros, para guardar a criação, à semelhança de S. José. Isto significa ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos, aprendendo a descobrir nele a beleza de uma irmã e a ternura de uma mãe, como se exprimia S. Francisco de Assis. Não admira que dedique agora uma encíclica a este tema, com o título do conhecido cântico do Santo de Assis, Louvado sejas.
Há muito anunciada e esperada, tornou-se pública no dia 18 de Junho, convidando os cristãos e todos os homens de boa vontade a cuidar da casa comum, que não é apenas a natureza, mas todas as relações da pessoa humana consigo, com os outros e com Deus, o Criador de tudo e de todos.
A isto o Papa apelida de ecologia integral. Quando falha uma das relações, tudo e todos sofrem, pois estamos a amputar os seres existentes de alguns dos seus membros, sejam eles a terra, o ambiente, os animais, ou o ser humano.
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sexta-feira, 19 de junho de 2015
“Laudato si”
Igreja Católica na linha da frente por uma “ecologia integral"
O Papa Francisco lançou hoje, 18 de Junho, a primeira Encíclica dedicada ao tema da ecologia, ‘Laudato si’, na qual propões a valorização do ser humano, da natureza, da fé e da cultura para superar a atual crise ambiental. Francisco pede “um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade” que consigam resistir ao “avanço do paradigma tecnocrático”.
“Uma ecologia integral requer abertura para categorias que transcendem a linguagem das ciências exatas ou da biologia e nos põem em contacto com a essência do ser humano”, escreve, no texto divulgado esta manhã pelo Vaticano. O Papa considera “inseparáveis” a preocupação com a natureza, a justiça para com os pobres, o compromisso social e a “paz interior”. “Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo. Pelo contrário, o mundo do consumo exacerbado é, simultaneamente, o mundo que maltrata a vida em todas as suas formas”, desenvolve. O Papa Francisco descreve um mundo que vive em “pressa constante”, pelo que a ecologia integral exige tempo para “recuperar a harmonia serena com a criação” refletir sobre estilos de vida e “contemplar o Criador”.
Aos católicos, propõe uma espiritualidade ecológica e paixão pelo “cuidado do mundo”, assumindo a “vocação de guardiões da obra de Deus”. “Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais, que já não poderemos conhecer, que os nossos filhos não poderão ver, perdidas para sempre. A grande maioria delas extingue-se por razões que têm a ver com alguma atividade humana. (…) Não temos direito de o fazer”, avisa.
A Encíclica sai em defesa de todas as formas de vida, desde o ser humano aos “fungos, as algas, os vermes, os pequenos insetos, os répteis”, os micro-organismos ou o plâncton. Francisco realça a “complexidade da crise ecológica”, que exige o contributo das “diversas riquezas culturais dos povos, a arte e a poesia, a vida interior e a espiritualidade”. “Falta a consciência duma origem comum, duma recíproca pertença e dum futuro partilhado por todos”, analisa o Papa, para quem esta situação implica “longos processos de regeneração”.
O novo documento alerta que a cultura ecológica “não se pode reduzir a uma série de respostas urgentes e parciais” para os problemas que vão surgindo à volta da “degradação ambiental, do esgotamento das reservas naturais e da poluição”. A encíclica fala, por isso, em ecologia ambiental, económica, social e cultural, dando como modelo desta atitude São Francisco de Assis (1182-1226), o santo que inspirou o documento e a escolha do nome do Papa, após a eleição pontifícia.
“Se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza na nossa relação com o mundo, então as nossas atitudes serão as do dominador, do consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais”, adverte. O pontífice propõe São Francisco como o “exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade”.
O Papa cita os seus predecessores, conferências episcopais (incluindo a portuguesa), bispos, teólogos da antiguidade e do presente, filósofos e escritores, incluindo Ali Al-Khawwas, figura do sufismo medieval no Egito que apresenta como “mestre espiritual”. Francisco dedica dois parágrafos à ação ecológica de Bartolomeu I, patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), e convida as religiões a “estabelecer diálogo entre si, visando o cuidado da natureza, a defesa dos pobres”.
Octávio do Carmo, Ecclesia
CARTA ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE O CUIDADO
DA CASA COMUM - AQUI -
sexta-feira, 12 de junho de 2015
Convivência na diversidade
1. Emigrantes e cidadania
No dia 7 de Junho realizou-se um referendo no Luxemburgo para saber a opinião dos luxemburgueses sobre vários assuntos, sendo um deles sobre os direitos políticos dos estrangeiros, que são cerca de 46% da população do Luxemburgo, sendo 16% portugueses. O resultado deste referendo exclui os estrangeiros do direito de voto, mesmo os provenientes de países da Comunidade Europeia. Tratando-se de um país da Comunidade Europeia, que tem como objetivo a livre circulação de pessoas e mercadorias, penso que foi um passo atrás na construção da Comunidade. A livre circulação, que se limite aos direitos de residência e trabalho, não é perfeita. Não pode haver cidadãos de primeira e de segunda.
Na última nota refletia sobre a língua como a nossa pátria. Mas não pode ser o único critério de cidadania, embora importante e fundamental. Os cidadãos comunitários, ao mudar do país de origem para outro da Comunidade, após um tempo de adaptação e integração, não devem continuar a ser considerados como estrangeiros, apenas como mão-de-obra, mas cidadãos de pleno direito, sendo um deles a escolha dos seus representantes no país onde trabalham e vivem. Em vários países da Comunidade já é possível exercer esse direito, desde que se esteja inscrito nos cadernos eleitorais desse país. Compreende-se a reação dos luxemburgueses, que estão na iminência de serem minoritários no seu próprio país, mas isso não justifica a decisão popular. Ainda bem que os seus governantes digam que irão respeitar esta decisão, mas tudo farão para, no futuro, tentarem mudá-la.
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quinta-feira, 4 de junho de 2015
A LÍNGUA É A NOSSA PÁTRIA
1. Português entre os emigrantes
Dentro de dias vamos celebrar mais um Dia de Portugal, das Comunidades e de Camões. Noutros tempos designava-se simplesmente Dia de Camões, o grande cantor da língua portuguesa. No contacto com os nossos emigrantes em países com idiomas muito diferentes do português compreendo bem o sentido e a força da expressão de outro nosso grande poeta, Fernando Pessoa: a língua é a nossa pátria.
Nos meus contactos com as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo e com os seus agentes pastorais, padres, diáconos, catequistas e outros colaboradores noto a força da nossa língua para fomentar os laços da família e das comunidades. A transmissão dos afetos, da fé e dos valores familiares e cristãos é mais eficiente quando se faz na língua das origens da família. Embora as novas gerações já frequentem ou frequentaram as escolas dos países onde residem e para a conversação entre elas usem o idioma da escola, no entanto os valores e afetos têm uma expressão que não passa só por palavras nem por formulários, mesmo que sejam orações tradicionais. Quando nos zangamos ou exprimimos sentimentos de amizade, não é apenas a expressão do rosto que fala. Também surgem as palavras correspondentes que ouvimos e aprendemos no colo ou no berço. Daí a importância da aprendizagem da língua da nossa família, para crescermos e fortalecermos a nossa identidade. Quem não faz esta experiência pode acabar por viver inseguro, sem pátria.
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