Os cristãos terminam o ano civil e começam o novo imersos na alegria e simplicidade da quadra natalícia.
O nascimento de uma criança numa gruta de pastores, que afinal é o Messias, o Salvador prometido, os anjos cantando a glória de Deus, a família de Nazaré e a da prima Isabel com Zacarias e João Batista, o rei Herodes e a narrativa dos sábios do oriente, conhecida como história dos reis magos, os seus presentes simbólicos, ouro, incenso e mirra, entregues ao menino de Belém, os cantares natalícios e das janeiras, no Alentejo o Cante ao Menino, tudo isto enche este tempo de uma magia especial, que nos faz sonhar de novo uma vida bela, repleta de luz, de cor e do amor espelhado na atenção e veneração dos adultos para com as crianças.
Sinto pena de quem não pode sentir e sonhar da mesma maneira, pois o sonho alimenta a vida, como alguém canta, fortalece a esperança e ilumina o caminho da humanidade à procura da felicidade, da realização plena. Mesmo que sejam menos exuberantes as iluminações natalícias por causa da crise energética e económica, a luz da fé continua a brilhar e a apontar-nos o caminho.
Ouvindo a narrativa dos reis magos, que em Jerusalém deixaram de ver a estrela e por isso se dirigiram ao palácio de Herodes, que, empertigado pela ameaça ao seu poder, reuniu os sacerdotes e escribas da corte, senti-me na pele destes personagens, movidos por ideais e atitudes contrárias e perguntei-me: porque uns procuram, se põem a caminho e os de casa não se interessam, estão instalados e adormecidos?
Os sábios voltaram a ver a estrela, encontraram um menino envolto em palhas e adoraram-no, voltando depois para suas terras por outros caminhos, cheios de alegria e esperança, enquanto Herodes, fica no seu palácio, frustrado, maquina a morte e a vingança.
Partilhando estas histórias e pensamentos em ambientes diferentes, entre presos e em comunidades paroquiais, percebi que precisamos de alimentar a nossa vida com o sonho e a esperança, purificar o nosso olhar, para descobrir a luz de Deus nas crianças, nos pobres, nos marginalizados dos poderes deste mundo. Se o fizermos, vamos descobrir caminhos novos para nós e a humanidade, que nos ajudarão a vencer as crises, cujas raízes estão no coração ambicioso de muitos, que excluem Deus do seu horizonte.
Quem procura, de coração sincero, movido pelo amor à verdade, à justiça, à fraternidade, à família, encontra a luz para o caminho da vida. Quem se instala, adormece ou nutre ambição de poder e de domínio sobre o seu semelhante, deixa de sonhar e ver a luz. Mas será que todos os cristãos ainda sonham um mundo melhor, alimentam a sua esperança e a dos seus semelhantes, iluminando os caminhos da vida? Parece-me que muitos esconderam a luz da fé debaixo do alqueire ou fecharam-na num esconderijo da casa.
Precisamos de alimentar os nossos sonhos e iluminar a nossa esperança com a Palavra de Deus e partilhá-la no diálogo inter-geracional e na missão eclesial, para que haja luz para a vida do mundo.
Neste sentido, no dia 21, em Santiago do Cacém, iremos reunir os animadores da missão e das assembleias familiares, para prepararmos o relançamento das missões. Temos um manancial de alimento para partilhar a luz e alimentar a esperança.
Vamos levantar-nos do sono, procurar e caminhar, pois quem busca encontra.
Até para a semana, se Deus quiser.
† António Vitalino,
Bispo de Beja