Padres Vicentinos: 25 Anos de Missão, em Santiago do Cacém
Pela porta das “Missões” entraram os Padres Vicentinos pelo Alentejo dentro. A sua presença nas terras alentejanas já vem de longe. Nos anos quarenta do século passado, o Bispo Soldado, D. José do Patrocínio Dias, convidou os filhos de S. Vicente de Paulo a percorrer a vasta área da sua Diocese como missionários itinerantes. Por ali andaram vários padres vicentinos. Palmilharam milhares de quilómetros ao longo do Litoral, anunciando o Evangelho e organizando as comunidades. Os anos de 1943 e 1944 foram de muita actividade partilhada com obreiros doutras famílias religiosas.
Seguiu-se um longo período de ausência. No final dos anos setenta, com o Bispo D. Manuel Falcão inicia-se uma outra temporada missionária no Alentejo: uma comunidade vicentina (1977), em Almodôvar, e a animação missionária, a partir de 1981, com os Padres M. Martins e João Maria. Não houve paróquia da diocese que não tivesse vivido uma Missão Popular, sendo muitas as equipas missionárias que trabalharam neste sector.
Em Almodôvar começa-se a programar o trabalho em moldes diferentes e pensa-se numa missão vicentina em todo o concelho (8 Paróquias e mais de 3 dezenas de Montes). Foi uma Missão preparada e realizada no outono-primavera de 1985-1986, uma experiência forte e válida para toda a Congregação. Almodôvar passou a ser a ponta avançada de toda a Província Portuguesa missionária.
Em Novembro de 1986, foi assinado com a Diocese um acordo de 3 anos no qual se previa a mudança de lugar. Demorou um pouco mais. Mértola foi uma primeira aposta, mas Santiago do Cacém, foi o lugar de destino da Comunidade.
Por Terras de Miróbriga
A vida é feita de mudanças. A Congregação da Missão tem um cariz de “itinerância da Missão”. E assim aconteceu. Em finais de Agosto de 1991, a nova equipa estava de malas aviadas para partir. Para trás ficava Almodôvar. Lá à frente estavam à espera as Paróquias de Santiago do Cacém, Abela, S. Bartolomeu, S. Francisco e Santa Cruz.
“Subiremos montanhas sagradas…” foi o cântico processional bem apropriado para quem realmente, a 1 de Setembro, subiu ao monte encimado por um Castelo e pela Igreja Matriz Santiago do Cacém. A Eucaristia foi presidida pelo P. António Teixeira, novo pároco, e concelebrada por Mons. Torrão, Cón. Ireneu, pároco cessante, e pelos Vigários paroquiais, Padres Fonseca Soares e Leitão dos Santos.
Proclamado o Evangelho, Mons. Torrão, em nome do Senhor Bispo de Beja, depois de saudar todos os presentes, apresentou o novo pároco e os seus colaboradores e leu os documentos apropriados para a tomada de posse. O novo pároco, depois de prestar o seu compromisso, apresentou-se a si mesmo como os demais colaboradores não esquecendo o Irmão Licínio.
A adaptação foi-se processando. Os movimentos foram surgindo. A história foi-se concretizando com o trabalho pastoral de cada dia. Ao fim de 3 anos, o Ir. Licínio partiu, em Missão, para Moçambique e o senhor Bispo solicitou à Comunidade para assumir a paroquialidade de S. Domingos e de Vale d’ Água.
Uma nova equipa, Missão Popular, ordenação presbiteral
A Comunidade foi renovada. Em Agosto de 1997, chegou o P. João Maria que, como pároco, preparou a cidade e as paróquias limítrofes para uma Missão Popular. O P. Leitão continuou o seu múnus de professor e juntou-se ao grupo, o Diác. Carlos César que, em tempos de estudante de Teologia, fizera aqui o estágio pastoral. Em 1999, houve festa grande em Santiago do Cacém: O Diác. César foi ordenado presbítero, por D. António Vitalino, ficando a fazer parte da comunidade, como o Padre novo. Outros confrades foram passando e, em 2000, o P. Armando Lopes partiu para a Casa do Pai, ficando sepultado no cemitério local.
Adivinhava-se nova mexida na Comunidade: O P. João Maria foi eleito Visitador (Provincial) e teve que partir. Os Padres Magalhães, Leitão, José Maria e Carlos César constituem a nova equipa. Outra equipa, e mais outra, e em Outubro de 2011, o P. Pedro Guimarães, moderador, e os Padres Agostinho e Azevedo, são apresentados como “párocos in sollidum”. A Comunidade vicentina de Santiago do Cacém assume a pastoral paroquial, a animação da pastoral missionária da Diocese e o serviço de capelania do Hospital Litoral Alentejano (HLA).
25 anos, a fazer o quê?
Sabemos que a gente das nossas paróquias não é muito praticante. É uma população predominantemente alentejana de origem e cultura. Por isso, pode-se dizer que o trabalho pastoral nesta zona foi e tem de ser essencialmente missionário.
Para servir esta gente no contexto do carisma vicentino, do nosso jeito próprio de evangelizar os mais próximos e os mais distantes, é imperativo “ir ao encontro” da gente e da cultura locais.
Fez e faz parte dos horizontes pastorais e do plano pastoral da Comunidade Vicentina de Santiago do Cacém ao longo destes 5 lustros: visitar as famílias e ir aos locais de encontro das gentes (escutar e auscultar); visitar os Lares/Centros de Dia, onde reside parte considerável dos idosos da terra e onde trabalham muitas pessoas; acompanhar os movimentos e serviços existentes, abrindo brechas para a entrada de sangue novo; apoiar e investir nas camadas jovens, na catequese, nos escuteiros, na JMV, procurando envolver as famílias; assegurar a boa preparação dos Sacramentos, fomentando a participação no CPB e no CPM; dar primazia às Famílias, animando as Equipas de Nossa Senhora e outros casais que nos procuram; dar tarefas e responsabilizar os leigos para uma participação activa; valorizar a preparação e celebração da Confirmação, desafiando os crismandos para um compromisso sério com Cristo e a Igreja (vida da paróquia); criar dinâmicas para a formação dos intervenientes na liturgia: leitores, acólitos, coros; apoiar e criar respostas concertadas de ajuda e apoio aos mais indefesos e sós, com grupo de visitadores e Conferências Vicentinas; reforçar a dimensão missionária não só fazendo e revitalizando as Missões realizadas na zona, mas também colaborar na animação missionária diocesana (2011-2015) e incrementar a presença junto dos doentes do HLA e seus familiares e junto dos profissionais da saúde.
Ao longo dos anos os planos diocesanos apostaram na iniciação cristã como objectivo prioritário. É um caminho que a Comunidade Vicentina, com as várias equipas que trabalham em Santiago, tem procurado inculcar na acção pastoral ao longo destes 25 anos. Semear é o trabalho do missionário, estar junto e aberto aos mais pobres e sofredores, é desafio permanente. Levar todos e cada um à conversão de vida e à adesão a Jesus Cristo é tarefa principal de quem escolheu viver segundo o carisma de Vicente de Paulo. É um trabalho árduo, que exige dedicação, paciência e perseverança.
Temos consciência e sabemos que ainda há um longo caminho a percorrer. O sustento para a caminhada vem da Palavra de Deus, dos Sacramentos, da Oração e da Comunidade. Aí se encontra a força para vencer dificuldades e combater a rotina, ou mesmo, a inércia.
Quando os Padres Vicentinos celebram 25 anos de Missão em Santiago do Cacém e se preparam para viver os 400 anos de Carisma e os 300 anos de presença em Portugal, olhar para trás, diz-nos que muito foi feito. Olhando com olhos de ver, descobrimos que nem tudo foi bem feito. Resta-nos acreditar que podemos fazer mais e melhor, aceitando reptos e desafios do Ressuscitado, do Povo de Deus, da Igreja local e seus responsáveis e sendo fiéis ao carisma do nosso Santo fundador.
P. Agostinho Sousa, CM
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