Fé é património da Igreja
O Papa Francisco assinala na sua primeira encíclica, que publicou hoje, a dimensão eclesial da fé, a qual diz ser mais do que “um facto privado” ou “uma opinião subjectiva”. “A fé não é só uma opção individual que se realiza na interioridade do crente, não é uma relação isolada entre o ‘eu’ do fiel e o ‘Tu’ divino, entre o sujeito autónomo e Deus, mas, por sua natureza, abre-se ao ‘nós’, verifica-se sempre dentro da comunhão da Igreja”, escreve na ‘Lumen Fidei’ (Luz da fé).
Para o Papa, é “impossível” acreditar sozinho, pelo que a fé tem uma forma “necessariamente eclesial”. Francisco pede que os crentes não se envergonhem de Deus ou se recusem a confessar a sua fé na “vida pública”.
“A fé ilumina a vida social: possui uma luz criadora para cada momento novo da história”, observa.
A reflexão iniciada por Bento XVI e concluída por Francisco, que agradece o trabalho do seu predecessor neste texto, sustenta que a “profissão de fé” é mais do que concordar com “um conjunto de verdades abstractas”. “Podemos dizer que, no Credo, o fiel é convidado a entrar no mistério que professa e a deixar-se transformar por aquilo que confessa”, pode ler-se.
Francisco destaca, por outro lado, que no centro da fé bíblica há “o amor de Deus, o seu cuidado concreto por cada pessoa”, que “atinge o clímax na encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo”.
A encíclica, documento mais importante assinado por um Papa, cita a obra ‘O Idiota’, do russo Dostoievski (1821-1881) para falar dos “efeitos destruidores da morte no corpo de Cristo”. “É precisamente na contemplação da morte de Jesus que a fé se reforça e recebe uma luz fulgurante, é quando ela se revela como fé no seu amor inabalável por nós”, escreve Francisco.
O Papa argentino passa em revista “quatro elementos que resumem o tesouro de memória que a Igreja transmite”: a confissão de fé, a celebração dos sacramentos, o caminho do decálogo, a oração. “O passado da fé, aquele acto de amor de Jesus que gerou no mundo uma vida nova, chega até nós na memória de outros, das testemunhas, guardado vivo naquele sujeito único de memória que é a Igreja”, realça o texto.
Para Francisco, esta fé em Jesus não separa os cristãos da realidade, mas leva-o “a comprometer se, a viver de modo ainda mais intenso o seu caminho sobre a terra”. A nossa cultura perdeu a noção desta presença concreta de Deus, da sua ação no mundo; pensamos que Deus se encontra só no além”, avisa.
O Papa refere que no Baptismo, o homem recebe “uma doutrina que deve professar e uma forma concreta de vida que requer o envolvimento de toda a sua pessoa”. A este respeito, apresenta-se uma reflexão sobre “o sentido e a importância do Baptismo das crianças”. “A fé é vivida no âmbito da comunidade da Igreja, insere-se num ‘nós’ comum. Assim, a criança pode ser sustentada por outros, pelos seus pais e padrinhos, e pode ser acolhida na fé deles que é a fé da Igreja”, precisa o documento.
Segundo o Papa, é importante que os pais acompanhem o amadurecimento da fé dos filhos, sobretudo os jovens, que “atravessam uma idade da vida tão complexa”. “Nas Jornadas Mundiais da Juventude, os jovens mostram a alegria da fé, o compromisso de viver uma fé cada vez mais sólida e generosa. Os jovens têm o desejo de uma vida grande”, prossegue.
A encíclica, divida em 60 pontos, conclui-se com uma oração a Maria, “Mãe da Igreja e Mãe da fé”.
Octávio do Carmo
Cidade do Vaticano, 05 Julho 2013
(Ecclesia)
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